No dia 5 de Junho deste ano (2009), os pais e encarregados de educação de uma escola primária da zona dita "rural" de Rio de Mouro receberam um comunicado do Ministério de Educação a dizer-lhes que este ano os seus educandos não seriam matriculados na EB 2/3 mais próxima da sua zona de residência, para onde sempre foram reencaminhados, indo em vez disso para uma escola do Cacém mais distante e com mais do dobro dos alunos. Este comunicado foi apresentado 20 dias antes da data das matrículas, não sendo apresentadas quaisquer alternativas para os pais a quem esta alteração repentina tantos transtornos causa. Foi decidido - está decidido.
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Resta ainda dizer, que não existem transportes directos para esta tal escola (enquanto que para a EB 2/3 de sempre existem autocarros directos durante todo o dia), que há a agravante de haver uma via estruturante entre a zona de residência destas crianças e a escola, que o ranking desta escola é PÉSSIMO, que é numa zona muito mais movimentada e que as crianças de 9 e 10 anos de uma zona extremamente calma não estão preparadas para irem e virem sozinhas de zonas tão movimentadas.
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Os Pais e Encarregados de Educação pediram uma reunião à DREL para tentar expor o seu ponto de vista, as suas muitas preocupações. Até hoje, ainda tal reunião não foi agendada.
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Será que os Portugueses não têm o direito de planear a sua vida familiar, sendo informados atempadamente das limitações que poderão vir a enfrentar? Será que os Pais portuguses não têm o direito de ir para os seus empregos descansados, sem se preocuparem com vias estruturantes que os filhos terão que atravessar, com o que lhes possa acontecer aos 9 e 10 anos, ao trocarem de autocarros para chegar a tempo à escola e/ou a casa?
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Será que a falta de respeito que se tem pelas crianças deste país é tanta que em vez de lhes tentar dar mais e melhor estão, em vez disso, determinados a que a classe trabalhadora, média baixa e média desse bairro não tenha direito a uma boa educação? Porque os meninos das escolas privadas certamente não têm este problemas.
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Ah, o aproveitamento académico de cada um depende só de si, dirão alguns muito "politicamente correctos" (com os filhos dos outros), mas na realidade sabemos que isso não é verdade. Como podem as crianças aprender, por mais dedicadas que sejam, no meio de repetentes muitas vezes bastante mais velhos, que teimam em destabilizar as aulas? Como podem os professores sequer ensinar nestas condições?
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Eu não quero só que as minhas filhas passem de ano e que um dia tenham um curso universitário. QUERO MESMO QUE ELAS APRENDAM. Que sejam verdadeiramente cultas, competentes. É para isso que tanto trabalho. Para lhes proporcionar o máximo que me é possível. Não me interessa o superficial. Não as quero "doutoras" e "engenheiras" a tirarem os cursos por fax!
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Pagamos impostos para quê? Não é certamente para podermos dar melhores condições educacionais aos nossos filhos porque muitos programas se anunciam mas aqui, não se vê nenhum a ser implementado. Estas crianças são autênticas cidadãs de segunda.
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Estou preocupada. Preocupadíssima. Queria por tudo proporcionar às minhas filhas, em termos de formação académica, no mínimo, o equivalente ao que me foi proporcionado a mim. Vejo isto muito dificil porque as políticas do Ministério da Educação ou sei lá de quem for, teimam em querer manter as nossos crianças na mó de baixo. Quem não tiver acesso a escolas privadas, está tramado pelo andar da carruagem. Mas talvez seja essa a intenção...afinal não será muito bom para a classe política que nos tornemos demasiado inteligentes, não é?
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Apetece-me gritar, estrabuchar, escrever cartas...será que existe alguma alma caridosa realmente preocupada com o futuro das nossas crianças, do nosso país? Temo que essa instituição ou pessoa não exista. Quer cá, quer na União Europeia.
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Estamos numa desbunda total ...mas eu ainda não estou pronta para desistir.
E há boa maneira portuguesa digo, não, grito: "NÃO ME LIXEM, PÁ!"